Análise – Fobia - St. Dinfna Hotel



O que é o medo? É uma resposta do organismo a um estímulo externo, de ordem física ou mental, cuja função é preparar o indivíduo para uma possível luta ou fuga.

Muitos diretores da sétima arte tentaram gerar essa sensação no espectador através de suas obras, alguns conseguiram acertar em cheio, outros deixaram a desejar.

Isso não é diferente na décima arte, ou melhor, na área de videogames. Alguns títulos conseguem tirar o jogador do seu habitual conforto, enquanto outros o entorpecem com o famigerado tédio.

Podemos dizer que o jogo Alone in The Dark foi o precursor dos jogos do gênero de terror ou melhor dizendo, jogos do gênero Survival Horror. Depois vieram outros, mas os que mais se destacaram nesse segmento foram Resident Evil e Silent Hill.

A franquia da Capcom se mantém em destaque até hoje, graças ao retorno às origens visto em Resident 7 e aos remakes lançados recentemente. Já a franquia da Konami encontra-se no esquecimento, sem perspectiva nenhuma de ver a luz do dia novamente.



Se pararmos para pensar, investir nesse segmento é complicado e ao meu ver, bem arriscado. Porque para o estúdio o título pode estar no ponto, mas não para a comunidade, que geralmente é exigente.

Quando eu soube do desenvolvimento do jogo brasileiro Fobia – St. Dinfna Hotel, fiquei empolgado e ao mesmo tempo preocupado. Sinceramente, não me lembro de uma empresa brasileira que tenha investido nesse segmento com sucesso.

Principalmente depois do retorno triunfal dos títulos da japonesa Capcom. Mas para a minha alegria, o estúdio Pulsatrix conseguiu entregar um game à altura de outros títulos internacionais.



Diante do desconhecido

A história gira em torno de um jornalista, Roberto Lopes, que tem como objetivo investigar os mistérios envolvendo um hotel supostamente assombrado. Os dias passam e o personagem não consegue avançar em sua investigação, até que algo acontece.

O roteiro é simples e não promete trazer nenhuma revolução para o cenário de jogos de terror. Mas ele é consistente na sua proposta e muito interessante em sua execução. A história é contada através de diálogos, documentos espalhados pelos cenários, fitas K7 e pelo próprio ambiente. Tudo isso conectado de uma forma muito competente.


O competente, nesse caso, é a forma como a narrativa te induz a se importar com esses itens que vão montando aos poucos o que está acontecendo naquele universo. É algo tão natural, que fez com o que eu me importasse com cada um deles, em especial a câmera fotográfica. Ela é especial e tem o poder de "conectar" momentos daquele ambiente através do espaço tempo. Ou de uma forma mais simplista, conectar dimensões.

É muito comum em jogos ter um certo excesso de textos, não é o caso do Fobia. O estúdio foi feliz em diluir partes importantes da história em pequenas partes e concentrá-las em um diário que pode ser consultado a qualquer momento.




Terror na dose certa

Fobia – St. Dinfna Hotel não é um jogo de ação, muito menos um de terror com foco em jumpscares. Na verdade, ele é focado no terror psicológico. Isso pode agradar alguns e desagradar outros. Eu não sou muito fã desse gênero, mas curti tudo o que o Fobia me ofereceu através do seu gameplay.

Os gráficos são excelentes e o level design é digno de elogios. Percebi durante a jogatina o esmero que o estúdio teve na construção de todos os ambientes e como eles se conectam perfeitamente.



Nesse ponto quero fazer um GRANDE elogio a caixa de puzzles. Não falarei mais nada sobre, para não estragar a experiência do jogador. Confesso que achei a ideia genial.

Com relação aos demais quebra-cabeças, todos foram construídos com inteligência. Fiz questão de ter ao meu lado um caderno de anotações para ajudar a decifrar os enigmas que encontrei durante a minha jornada.

A parte sonora consegue transmitir a tensão no ar nos momentos certos. A música ambiente é gostosa de se ouvir, não é enjoativa e parece compor de forma orgânica os cenários por onde andamos. Tive momentos memoráveis com o game e já o considero como um dos melhores jogos que joguei em 2022.



Um diamante a ser lapidado

Nem tudo no jogo é perfeito, há falhas com as quais eu me deparei durante a jogatina, que não comprometem de fato o resultado final, mas que podem ser melhorados nos próximos títulos.

O primeiro deles é o controle da arma. Ele não é tão preciso e gostoso como no Destiny ou na franquia RE. É necessário um certo tempo para se acostumar. Se a intenção do estúdio era de tentar passar a sensação de uma pessoa que não sabe manejar corretamente uma arma, tudo bem, mas se esse não é o caso, infelizmente essa parte precisa ser lapidada.



Outro ponto tem relação com a iluminação. Enquanto eu jogava fagulhas luz apareciam do lado direito da tela. Procurei na internet se outros usuários tiveram a mesma experiência e não encontrei nada.

As batalhas contra os chefes são simples, isso não me incomodou, mas pequenos bugs de movimentação das criaturas, isso sim, me incomodou bastante, como por exemplo a aranha. Ela teimava em andar no teto e de repente surgia no chão. Parecia que ela tinha se teleportado, fora os momentos em que a mesma ficava presa tentando sair de uma determinada sala.



Orgulho nacional

Mesmo sendo um jogo BR, temos o cuidado de analisá-lo de forma imparcial, elogiando o que for bom e criticando o que for ruim. A ideia não é passar pano para nenhum estúdio ou jogo.

Esse não é o caso do Fobia – St. Dinfna Hotel. Ele é um jogo excelente, com uma história bacana e com um gameplay muito gostoso de ser jogado. O ritmo do game é ótimo e me senti empolgado a todo momento, mesmo não sendo um fã desse gênero.

Se puderem dar uma chance ao Fobia, tenho certeza que não se arrependerão. Sinceramente, não vejo a hora de ver o que a Pulsatrix tem para nos oferecer nos próximos projetos.

Trailer